Alto risco: som na medida certa



Luis Macedo e seu Peugeot 207

Sair do trabalho e enfrentar horas de congestionamento. Carro parado, uma fila que só aumenta... O motorista procura passar o tempo ouvindo música. Começa a cantar, acompanha o ritmo batendo as mãos levemente no volante e decide aumentar o volume. A canção parece tomar conta do ambiente e, de repente, todo o restante é esquecido. A concentração está agora na melodia e não mais no trânsito. Essa atitude cotidiana pode causar danos à saúde do motorista e à segurança viária. “Nós já temos contato com muita informação nas ruas e o som alto só agrava essa situação”, afirma Salomão Rabinovich, psicólogo e diretor do Centro de Psicologia Aplicada ao Trânsito (CEPAT).



Raphael Panigalli mostra o som pesado do seu Peugeot 307

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) a frequência sonora superior a 55 decibéis (dB) é considerada nociva aos seres humanos. Uma conversa convencional alcança em torno de 30 dB, mas o trânsito das grandes cidades pode registrar cerca de 120 dB. “Para níveis acima de 65 dB, começa o estresse gradativo, causando fadiga, irritabilidade, perturbação do sono, falta de concentração, o que prejudica a saúde e o bom desempenho das atividades diárias”, diz Teresa Maria Momensohn Santos, diretora pedagógica do Instituto de Estudos Avançados da Audição (IEAA).

O volume sonoro não é o único vilão, conta com um aliado: o tempo de exposição. O número de horas que cada pessoa consegue suportar está diretamente ligado às questões físicas. “Costumamos chamar de ouvido de cristal, aquele indivíduo que tem grande sensibilidade ao som intenso. Pouco tempo de exposição já leva a uma perda auditiva. Em compensação, existem outros indivíduos, os chamados ouvidos de rocha, que suportam a exposição ao som intenso por anos, sem apresentar qualquer problema”, afirma Teresa. No Brasil, o Ministério do Trabalho criou uma norma reguladora específica para a exposição aos ruídos sonoros. A NR-15 mostra a quantidade por dia que cada ser humano deve escutar determinado nível de som.

Além de prejudicial ao organismo, o som muito alto também é contra as leis de trânsito. Em 2006, o Contran determinou que os carros que estiverem equipados com aparelhos que emitam sons acima dos volumes estipulados receberão multa grave e cinco pontos na carteira (a tabela abaixo mostra o volume sonoro e a distância mínima permitida).

Nível de Pressão Sonora Máximo - dB(A) Distância de medição (m)
104 0,5
98 1,0
92 2,0
86 3,5
80 7,0
77 10,0
74 14,0

A legislação não é tudo para Rabinovich. “Precisamos ter noções de cidadania. Devemos ter respeito com os outros e conosco na hora de dirigir”, afirma.
Mas nem sempre a preocupação com a saúde física e viária prevalece. Para algumas pessoas o hobby pode vir primeiro.



“Adoro escutar som alto. Já é hábito. Aconteceu da polícia me parar e pedir para fechar o DVD, mas vale a pena”, diz a bicampeã de tuning, Jomar Ferreira (acima), que tem um equipamento capaz de atingir 111,7 dB.

Assim como ela, Adriano Ferreira (abaixo) é outro adepto da potência máxima. Com um som avaliado em R$ 2 mil, ele garante que falta investir mais R$ 3 mil para o equipamento ficar como sonha. “Escuto o som sempre mais alto. Faço isso para chamar a atenção da galera”, conta ao apresentar o seu som de 96,4 dB.



No entanto, nem os técnicos de aparelhos automotivos recomendam ouvir música no último volume. “Essa frequência não é indicada. O som perde a qualidade e pode ficar distorcido”, declara André Bezerra, técnico da SP Som. Esse é um problema Rafael Toledo conhece bem. O gerente de recursos já gastou R$ 18 mil com os equipamentos sonoros e mesmo assim não consegue deixar a música muito alta. “A regulagem do alto-falante está em menos sete, senão eu não consigo ouvir, fica alto demais. Às vezes quando eu entro no prédio com o som ligado dispara todos os alarmes dos carros”, diz ao lado do seu companheiro de 109,7 dB.

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